Após mais de duas décadas se digladiando abertamente em uma guerra fratricida e principalmente “burra”, como todas as guerras, gerando mortos e feridos de ambos os lados, desperdiçando vultosos recursos, a relação entre Analistas e Auditores não poderia ser pior, apesar de alguns pessimistas crerem passionalmente que ela possa se agravar. Ódio, rancor, desconfiança, mágoas e indiferenças são algumas das palavras que definem atualmente os sentimentos de parte dos membros da carreira Auditoria da Receita Federal do Brasil.
Esse ranço vem sendo alimentado por décadas e por muita gente, felizmente uma minoria, em geral mal intencionada, que tem mais a ganhar com a divisão do que com a união dos cargos, na mais clara aplicação da célebre frase “dividir para governar” atribuída a Maquiavel. A venda da ideia do ódio traz dividendos políticos e até financeiros para alguns, por ser um discurso apelativo e fácil de vender. Contudo, ambas as categorias estão entrando num beco sem saída.
Enquanto diversas classes de servidores das Administrações Tributárias dos estados da federação, entre outras,conseguem sentar, conversar e avançar nas suas lutas (LOF, reestruturação, campanha salarial e etc), com ganhos evidentes para todos e para a sociedade, os servidores da carreira ARFB inadvertidamente continuam a amargar derrotas e esperas infindáveis de melhorias que, em tese, deveriam ser urgentes.
Há algumas semanas Sindireceita (ATRFB’s) e Sindifisco Nacional (AFRFB’s) sentaram para discutir a possibilidade de uma atuação conjunta na campanha salarial de 2012, mas não conseguiram sequer publicar um texto satisfatório para suas bases. Foi um passo importante na direção certa, não obstante se saber que não sairia nada de concreto dessa tentativa, pois seria exigir demais dos representantes de ambos os cargos, com tantas diferenças a serem equacionadas.
Apesar de válida a tentativa, a estratégia estava equivocada. Décadas de embates deixaram marcas profundas nos dois lados e apenas uma única reunião sem planejamento, sem a aplicação das técnicas de negociação, sem um especialista em mediação de conflitos, por obvio não culminaria num resultado satisfatório.
Está claro que parcela considerável de ambas as categorias já percebeu a necessidade de empenho de seus representantes sindicais na busca de soluções mínimas para alguns dos impasses que atravancam o desenvolvimento dos servidores da carreira. Resta saber se os dirigentes do Sindifisco Nacional e Sindireceita estão dispostos a fumar o cachimbo da paz e desenvolver uma pauta mínima que não inviabilize as discussões.
Compreensão, superação, bom senso e boa vontade é o mínimo que se exige desses dirigentes. As demarcações de uma pauta mínima a ser discutida ponto a ponto, com a definição de rodadas de negociação para cada ponto, quantas forem necessárias, com representantes sindicais comprometidos com esse projeto maior de pacificação / construção são pré-requisitos básicos de um planejamento. A intermediação de um negociador de conflitos experiente, totalmente imparcial e que gerencie as reuniões de maneira e encaminhá-las a um resultado aceitável, também é recomendável.
É sabido que as categorias da carreira ARF tem entraves insuperáveis, pelo menos até o momento, mas da mesma forma reconhece-se a possibilidade de avanço em muitos assuntos de interesse comum. Dificuldades existem, mas sem tentar superá-las fica impossível equacioná-las, com um dispêndio maior de toda a sorte de recursos. Temos exemplos recentes de categorias que conseguiram construir um mínimo de entendimento e solucionar parte de seus problemas.
Interlocutores do Governo já afirmaram, diversas vezes, que sem consenso não encaminhariam a LOF e eles estão certos! O envio dessa proposta na forma que está causaria mais uma batalha dentro do Congresso Nacional, o que atrapalharia o andamento dos trabalhos das casas legislativas e acirraria mais uma vez os ânimos dentro da Receita Federal. Em relação à campanha salarial, já se percebeu que os dois cargos unidos formariam um grupo muito mais forte, capaz de negociar melhor com o governo.
Não há guerra que não chegue ao seu fim, mas quanto mais precisará ser sacrificados pela falta de bom senso de alguns? Melhorias salariais, de condições de trabalho, de otimização dos serviços prestados à sociedade e ao próprio Estado são exemplos de consequências imediatas das possíveis ações de entendimento e convergência das entidades representativas das categorias. No primeiro momento o que se defende aqui pode parecer antipático mas é uma solução lógica. Os nossos maiores inimigos são a insensatez, a esperteza e a ignorância.